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Proteínas alternativas são aliadas na garantia de um futuro mais sustentável

Na contramão das inovações alimentares, iniciativas tentam barrar o desenvolvimento do setor, mas este é um mercado do “e” e não do “ou”. Há espaço e demanda para toda a indústria.

Mais um ano se inicia. Deixamos para trás um ano complexo, onde a vida em geral foi novamente pautada pela pandemia, onde experimentamos o alívio da vacinação de grande parte da população e a incerteza sobre novas variantes do vírus e seus efeitos. Abrimos um ano onde temos a sensação de estarmos na segunda metade da luta contra a Covid-19 e a certeza de que algo de novo precisa ser feito na relação entre o homem e o planeta.

Hora de ouvir os ecos das discussões globais sobre sistemas alimentares (UNFSS) e suas conexões com os desafios da sustentabilidade (COP26). Hora de olhar para os números crescentes da fome no mundo. Hora de convergir as forças em prol de um tema crucial que atravessa diversas dessas questões: a oferta de proteína obtida de forma sustentável para consumo humano, não importa a fonte. A indústria da proteína de origem animal intensificou o debate nessa direção, anunciando diversos programas em busca da neutralidade de suas emissões nas próximas décadas, dentre elas Danone, JBS e BRF.

A indústria de proteínas alternativas pode colaborar muito neste debate. Está provado que é possível juntar alguns ingredientes, aditivos e coadjuvantes de tecnologia usuais na indústria de alimentos com outros desenvolvidos especificamente para esse mercado e criar um alimento gostoso, sustentável e seguro, que pode ser preparado e consumido da mesma forma que o produto de origem animal, mas utilizando uma quantidade radicalmente menor de terra e água em seu processo produtivo.

Essa é uma corrida tecnológica que está acontecendo em diversas partes do mundo e tanto as empresas quanto os cientistas brasileiros estão muito bem posicionados. Trata-se de um campo fértil para a inovação e o Brasil sempre se destacou em avançar tecnologias que já dominava antes. Somos uma potência em alimentos e temos tudo para sermos uma potência também em alimentos de alta tecnologia, como os produtos plant-based e as carnes cultivadas. Somos hoje o celeiro do mundo, imbatíveis e fundamentais no fornecimento de commodities agrícolas. Como disse um importante executivo do setor, podemos nos tornar rapidamente o supermercado do mundo, fornecendo produtos de alto valor agregado desenvolvidos e fabricados no Brasil.

Reimaginarmos a forma como obtemos proteína para consumo humano é urgente e fundamental. As proteínas alternativas, como chamamos os produtos análogos aos de origem animal obtidos a partir de plantas, por processos de fermentação ou por cultivo de células, é uma das alternativas concretas para ajudarmos o Brasil na sua transição para uma agricultura de baixo carbono. Lado a lado com as proteínas sustentáveis de origem animal, podemos formar uma resposta consistente do nosso país e da nossa economia agrícola ao novo cenário de médio prazo, onde diferentes fontes de obtenção de proteína para consumo humano conviverão. Esse é um mercado “E” e não um mercado “OU”, há espaço e demanda para atuação de todos.

O papel do GFI é ser um catalisador dessa mudança, estimulando a produção de proteína sustentável para consumo humano através de análogos aos produtos de origem animal. Hora de rever o que foi feito ou deixou de ser feito e alinhar ideias e atitudes para o ano que se inicia.

O mercado de produtos análogos aos produtos de origem animal vem crescendo muito. Nascido em 2019 a partir do movimento de algumas poucas empresas, veio tomando corpo em 2020 e se consolidou em 2021. Diversas empresas de diferentes portes passaram a operar no mercado nacional e hoje tanto o consumidor brasileiro tem acesso a produtos saborosos e seguros em qualquer supermercado quanto ele já é exportado para mais de 25 países, incluindo Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Alemanha, Emirados Árabes, África do Sul, México, Colômbia e tantos outros.

O principal desafio para as empresas em 2022 é caminhar na direção do aumento ao mesmo tempo da escala de produção e do número de ingredientes nacionais utilizados. Isso poderá permitir a produção a um custo cada vez mais baixo, para um público cada vez maior. E permitirá produtos de alcance global cheios de “brasilidade” na sua composição. É hora de consolidar a tendência de que o Brasil passe a utilizar em seus análogos de base vegetal seus próprios feijões e pulses como fonte principal de proteína e ingredientes naturais extraídos de forma sustentável da biodiversidade brasileira através de agregação de valor local.

Assim como no mercado de proteína de origem animal para consumo humano, onde o Brasil é indiscutivelmente protagonista no cenário internacional, a tendência ao protagonismo também no mercado de proteínas alternativas parece ser apenas uma questão de tempo. O mapeamento das empresas mostra desde gigantes do mercado de proteína animal que anunciaram ou iniciaram seus negócios em proteínas de origem vegetal até empresas de médio porte que se posicionaram no setor, passando pelas inúmeras startups que já nasceram com foco neste mercado. Sem esquecer de como o Brasil vem se posicionando no promissor território das carnes obtidas por cultivo celular, com os anúncios da JBS e BRF e o surgimento das primeiras startups no segmento.

E quando a indústria se move, a pesquisa científica precisa ser chamada a caminhar junto, desenvolvendo a tecnologia necessária para as inovações serem introduzidas no mercado. O mapeamento das instituições de pesquisa envolvidas com o tema mostra também um engajamento em universidades e institutos de pesquisa de todo o país.

Assistimos a um crescimento exponencial do número de empresas atuantes no setor de proteínas alternativas no Brasil e a uma mobilização acadêmica que pode sustentar um cenário muito favorável de crescimento.

Mas nem tudo são flores nesta cena. E nem esperávamos que fossem. Fechamos 2021 e estamos abrindo 2022 com algumas ações contrárias ao desenvolvimento deste setor no Brasil. Descontentes com o nosso discurso, alguns movimentos e associações se posicionaram na mídia e judicialmente tentando interromper esse desenvolvimento. Estamos prontos para o bom debate, e atentos para as batalhas políticas e judiciais. As descobertas e invenções sempre foram feitas nos laboratórios, mas a inovação (que é levar estas descobertas e invenções ao mercado) sempre passou também pela opinião pública e pelos tribunais.

Repetimos há tempos e continuaremos repetindo que este é um mercado “e” e não um mercado “ou”. Os novos alimentos se somam aos já existentes, ampliando o arco de opções do consumidor brasileiro. Treinado pelos mais de 30 anos do Código de Defesa do Consumidor, o consumidor não é enganado pelos termos usados nestes produtos. O consumidor faz escolhas num processo de decisão informada. Ter que criar termos novos para os novos produtos, isso sim seria desinformá-lo e causar confusão.

As empresas que antes operavam apenas com produtos de origem animal lançam suas linhas de produtos análogos feitos de plantas, além de um número crescente de startups que estão se desenvolvendo a partir da oferta de produtos neste segmento. Dificultar a introdução destes novos produtos do mercado, sob qualquer argumento não científico, é tentar barrar esse progresso. Clamar pelo cumprimento estrito de um marco regulatório desenhado (e muito bem desenhado) em tempos passados é ignorar que a inovação caminha sempre à frente do regulatório e que este precisa se adaptar aos novos tempos. Estabelecer o regramento adequado, dentro de um debate científico isento e democrático, é não apenas a tarefa dos reguladores brasileiros como também uma demanda da indústria, que hoje opera com um grau bastante grande de incerteza no desenvolvimento de seus produtos e uma exigência do consumidor, consciente da necessidade urgente de mudarmos a maneira como obtemos nosso alimento.

Para uma refeição saudável, prefira alimentos frescos e orgânicos. Um hamburger vegetal nunca se pretendeu substituto de uma alimentação completa em nutrientes. Mas para uma refeição sustentável, preocupe-se em como seus alimentos foram obtidos e qual a relação de suas cadeias de produção com o planeta. Pessoas tendem a resistir menos à mudança do que a serem mudados. Não estamos sugerindo que você se torne vegano, embora reconheçamos o valor dessa dieta. Estamos trabalhando para o mercado lhe oferecer um outro tipo de carne, leite e laticínios, ovos e pescados, tão saborosos quanto (ou melhores) e com o mesmo preço (ou menor) que os produtos de origem animal. Mas a escolha final é e sempre será do consumidor.

O GFI segue sua luta, no Brasil e no mundo, reimaginando proteínas e sendo um catalisador das mudanças que se fazem necessárias nessa direção. Nosso discurso tem mais semelhanças que diferenças com o discurso dos defensores de processo mais sustentáveis de obtenção de produtos de origem animal. Temos a certeza que caminhamos lado a lado com eles. O rio da história é caudaloso e certamente engolirá as vozes que olham para o futuro pelo retrovisor e se apegam a um modo de fazer as coisas que já não cabe mais no nosso único planeta. Venha conosco.








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