A Kraft Heinz Company, fabricante de alimentos, e a startup chilena The Not Company anunciam uma joint venture criada para aumentar a escala do mercado de produtos plant-based. As negociações começaram há dez meses.
Denominada The Kraft Heinz Not Company LLC, a união terá sede em Chicago, com instalações de P&D em São Francisco, e será comandada por Lucho Lopez-May, que atualmente é CEO da NotCo na América do Norte. Anteriormente, Lopez-May atuou como CEO da Garland Food e, antes disso, foi presidente de canais de crescimento estratégico do grupo Danone.
Controlada, obviamente (as empresas não informaram qual será a fatia de cada uma delas na joint-venture!), pela Kraft Heinz, a joint venture pretende fomentar os pontos fortes de ambas as empresas: a tecnologia de soluções em inteligência artificial da NotCo e o portfólio de marcas da Kraft Heinz. Assim, a nova empresa se concentrará em inovação baseada em plantas dentro das categorias de produtos da Kraft Heinz. “A joint venture com a The Not Company é um passo crítico na transformação de nosso portfólio de produtos e uma adição tremenda às nossas capacidades de design para valor da marca”, disse Miguel Patricio, CEO da Kraft Heinz.
Primeira foodtech da América Latina a se tornar um unicórnio, a NotCo já havia atraído a atenção de investidores como Tiger Global e Jeff Bezos e até mesmo do Lewis Hamilton.
"A joint venture se concentrará em trazer versões plant-based, de algumas das marcas Kraft Heinz favoritas do mundo, para o mercado em velocidade recorde por meio de tecnologia patenteada de inteligência artificial", disse o CEO global da Kraft Heinz, Miguel Patrício. De fato, a força da Kraft Heinz nos Estados Unidos dará uma escala que a NotCo não conseguiria em um espaço de tempo tão curto — a startup chegou ao mercado americano apenas no ano passado. "Estamos subindo a bordo de uma marca que todos conhecem. Quando alguém escolhe um produto com o selo Kraft Heinz, já sabe que será algo saboroso, acessível e que estará em todos os supermercados próximos de sua casa", entusiasma-se Matias Muchnick, cofundador e CEO da NotCo.
Vamos aproveitar a capacidade de distribuição, produção e a escala da Kraft Heinz. "Unir essas forças pode gerar uma transformação neste mercado com uma velocidade e profundidade nunca antes vistas. Vamos levar o plant-based ao mainstream”, projeta Muchnick.
Embora as primeiras apostas ainda não tenham sido reveladas, o escopo deve alcançar todos os tipos de proteínas. Hoje, a NotCo comercializa leite, maionese, sorvete, frango e hambúrguer de origem vegetal.
Na Kraft Heinz, os negócios vegetais não são exatamente uma novidade, embora o que se convencionou a chamar de plant-based tenha outra conotação — e sex appeal entre os investidores. "Quando você pensa em Heinz Beanz ou Heinz Ketchup, essas marcas são negócios significativos à base de plantas. Somos o maior produtor de tomates do mundo”, diz Patricio. Por outro lado, reconhece, a sociedade traz a oportunidade de oferecer novas opções plant-based para alguns de nossos produtos que ainda levam insumos de origem animal — maionese pode ser uma delas.
Para a NotCo, a sociedade também vem a calhar. Há menos de um ano em operação nos EUA, a startup ainda depende bastante do mercado latino-americano, de menor renda. Cerca de 85% das receitas vêm da região, no qual o Chile ainda é o principal consumidor — o Brasil vem ganhando importância e deve se tornar o maior mercado da foodtech nos próximos anos. Mas, na expansão para os EUA, a startup chilena não está livre de obstáculos. Existe um grande problema! Muitos números e previsões de mercado são inconsistentes e demasiadamente positivos. Nos últimos tempos, as vendas de produtos plant-based no mercado americano desaceleraram, o que atrapalhou companhias como a Beyond Meat — listada em bolsa, que viu as suas ações derreterem. Para Muchnick, e outros fãs incondicionais, o problema está na escala. “Criamos essa joint venture como uma resposta a esse problema. Existe um potencial enorme neste mercado, mas até hoje ninguém conseguiu entregar um produto de qualidade pelo preço justo. Por conta de problemas de escala, penetração no mercado e capacidade produtiva, isso ainda não foi feito”, comenta o CEO da NotCo. Por isto, a ideia não é trabalhar mercados de nicho. A parceria deve aproveitar a escala e a força da marca Kraft Heinz para expandir o público no mundo, com preços competitivos, afirma Muchnick. Também, faz segredo sobre quais produtos devem nascer a partir da joint-venture, mas disse que o plano é fazer lançamentos já no curto prazo e ter presença global. “Estamos definindo os produtos e a geografia que queremos explorar com eles. Mas é uma joint-venture global, com o plano de lançar produtos em vários países. Estamos ainda em modo startup, o contrato acaba de ser assinado, mas esperamos ter novos produtos já este ano”, comentou o empreendedor chileno. “Vamos crescer mais de três vezes este ano com essa joint-venture, que nos ajuda a amplificar a mensagem” afirmou o CEO da NotCo, que nunca abre dados operacionais.
Sobre a NotCo
A empresa nasceu, em 2015, em Santiago. Desde o princípio, seu plano foi usar análise de dados e inteligência artificial para combinar insumos de origem vegetal e emular textura, sabor e aroma de produtos tradicionalmente fabricados com ingredientes de origem animal. Assim como outras empresas de plant-based, a NotCo se vende não apenas como mais saudável, mas também como uma alternativa ecologicamente mais responsável, já que a pecuária é um dos maiores emissores de gases do efeito estufa.
No meio do ano passado, a NotCo se tornou o primeiro “unicórnio” latino-americano de alimentos plant-based ao receber investimento de US$ 235 milhões. A companhia foi avaliada em US$ 1,5 bilhão na ocasião.
Inicialmente, a companhia ficou conhecida por sua maionese vegana, mas o portfólio de produtos já compreende leite (bebida vegetal), sorvete, hambúrguer e nugget de frango. Hoje, a companhia tem presença no varejo de Chile, Argentina, Brasil, Colômbia, México, Canadá e EUA e vende indiretamente a mercados como os de Austrália e Equador. No Brasil, a companhia já emprega 70 pessoas.