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O futuro do mercado plant-based: paridade de preço, disponibilidade e sabor

A saúde vem se tornando cada vez mais importante para a população, passando a abranger não só a saúde das pessoas, mas também a dos animais e do meio ambiente. A pandemia nos mostrou o quanto esses elementos estão interligados. Nos últimos anos, temos visto um boom de marcas nascendo com a missão de cuidar melhor da saúde de tudo e todos. Um dos mercados impulsionados por esse interesse é o mercado plant-based, ou em português, o mercado de alimentos à base de vegetais.

Segundo uma previsão atualizada da Bloomberg Intelligence, o mercado global de proteínas alternativas à base de plantas pode aumentar para US$ 166 bilhões na próxima década. E ainda assim, este mercado está, na minha visão, apenas no começo.

Em nível global, as carnes plant-based representaram apenas 0,4% das vendas totais de carne em 2021, enquanto as bebidas à base de plantas – de aveia, castanhas etc – análogas ao leite animal cresceram para cerca de 15% das vendas totais de leite, após serem adicionadas às gôndolas de laticínios.

E falando em laticínios, apesar do sucesso dos leites vegetais, a categoria como um todo também tem muito para crescer. Ainda estamos no começo da popularização dos outros produtos derivados como iogurte, sorvete, queijo e manteiga.

Segundo o relatório “Plant-Based Foods Poised for Explosive Growth” da Bloomberg, o mercado de lácteos alternativos, com uma penetração de 10% do mercado total, ainda tem o potencial de atingir US$ 67 bilhões globalmente.

Outras categorias como ovos, molhos, temperos, condimentos e refeições prontas podem crescer para US$ 23,8 bilhões até 2031, de acordo com a previsão.

E o cenário no Brasil?

No Brasil, segundo uma pesquisa publicada pelo Good Food Institute (GFI) no fim do ano passado, a parcela de consumidores que reduziu o consumo de carnes nos doze meses anteriores saltou de 50% em 2020 para 67%. A principal razão (45%) dos entrevistados foi o preço da proteína animal e depois a preocupação com a saúde (36%).

Muitas marcas brasileiras nativas plant-based, ou seja, empresas que nascem livres de quaisquer ingredientes de origem animal, vêm surgindo no Brasil desde 2019.

Algumas empresas, como Notco, Fazenda Futuro, Vida Veg e Positive Brands – a marca por trás da A Tal da Castanha -, já vêm se consolidando no grande varejo. Inclusive, segundo um estudo realizado pela HappyCow e Veganuary, o Brasil é o país com mais opções para veganos na América Latina.

Em nível de investimento brasileiro, também temos visto uma explosão de interesse na categoria. Abaixo alguns exemplos:

No fim de 2021 a Fazenda Futuro, startup brasileira de proteínas plant-based, levantou R$ 300 milhões na sua Serie C, liderada pela BTG Pactual e Rage Capital. A NoMoo, de queijos vegetais, levantou R$ 10 milhões, liderada pela DXA Invest. Em janeiro do ano passado, a foodtech de leite de aveia Nude levantou R$ 25 milhões em uma rodada da Série A, liderada pela VOX Capital.

Também no ano passado, o fundo de venture capital americano Lever VC se tornou sócio majoritário da The New, ao aportar R$ 38 milhões. Outra empresa desta categoria, a Typical, anunciou em Novembro uma rodada de captação (no estágio seed) de R$ 4 milhões, liderada pela Futurum Capital com participação do Bernardinho. Em agosto, a Vida Veg, empresa com foco em laticínios plant-based, levantou R$ 18 milhões com a X8 Investimentos.

As rodadas de empresas em estágio inicial (pré-seed) também estão a todo vapor. Na Vegan Business, plataforma de equity crowdfunding para marcas plant-based, sete empresas já levantaram R$ 6 milhões no total, com a nossa comunidade que atualmente já conta com mais de 5 mil pessoas que pretendem investir em negócios do setor.

Co-fundei a plataforma inicialmente como um veículo de conteúdo para divulgar as iniciativas do mercado plant-based e fomentar as iniciativas para reduzir a crueldade animal. Em 2021, ampliamos nossa tese, com a aprovação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), para captação de investimento, onde há a possibilidade de investidores se tornarem sócios de marcas de bens de consumo brasileiras com produtos validados e em crescimento.

Das sete rodadas, cinco foram destinadas a empresas de alimentos com tickets de R$ 600 mil para a marca de laticínios plant-based Novah! até R$ 1,5 milhão na rodada da Conví Foods – foodtech de alimentos plant-based.

Neste ano, a Super Vegan, uma das principais marcas de chocolate plant-based, levantou R$ 1,5 milhão em uma rodada mista entre fundo de venture capital e plataforma de equity crowdfunding. Um movimento novo no Brasil que já acontece com frequência no exterior.

O que falta para o mercado plant-based crescer ainda mais?

Na minha visão, os principais catalisadores de crescimento do mercado plant-based a serem observados são: Paridade de preço, disponibilidade e sabor.

Preço

A redução da diferença de preço comparado aos alimentos de origem animal será, na minha visão, o principal fator decisivo na hora da compra. As pessoas estão abertas a se alimentarem com produtos plant-based, mas muitas pessoas não podem ou estão dispostas a pagar mais. De acordo com uma análise do economista agrícola Jayson Lusk, cada queda de 1% no preço dos hambúrgueres plant-based leva a um aumento de 3% na participação de mercado.

A paridade de preços não está tão longe, segundo o relatório “Plant-based protein: parity on the horizon“ da Kearney. Muitos fabricantes de carne plant-based já estão passados da onda de custos iniciais de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), e várias empresas já estão conseguindo reduzir drasticamente os custos de produção. Que pode refletir no custo final do produto aos consumidores.

Disponibilidade

Você deve ter percebido que tem cada vez mais opções plant-based nos restaurantes e até nos supermercados, mas ainda há muito espaço para crescer. Enquanto você encontra uma ou duas marcas de leite vegetal nos varejistas aqui no Brasil, nos Estados Unidos, existem 15-20. Geralmente quando a oferta é maior, a visibilidade é maior e assim a comercialização é maior.

Sabor

Falando em alimentos, quanto melhor a experiência sensorial (que envolve textura, sabor, suculência, prazer em comer), maior a taxa de recompra e mais rápido o crescimento se acelera. Nos últimos quatro anos, em nível de sabor e textura, uma revolução tem acontecido no mercado. A opção de carne de soja sem gosto foi substituída por análogos com gosto e aparência dos alimentos de origem animal. Hoje também temos leites de diversos tipos como aveia, coco e castanhas bem mais gostosos e queijos que derretem perfeitamente. Ainda assim, há espaço para melhoria com as novas tecnologias e as foodtechs olhando para esse mercado, em breve – nos próximos 3 ou 4 anos – eu acredito que será praticamente impossível sentir diferença entre os análogos e as opções animais.

Com a consciência cada vez maior sobre o que comemos, os alimentos plant-based ganham mais e mais espaço no nosso dia a dia. É notório que o mercado ainda está apenas no começo, e com a tendência de crescimento que temos visto, é importante que a indústria considere paridade de preço, disponibilidade e sabor para acelerar ainda mais o crescimento desta categoria. Com isso, temos cada vez mais esperança de ver o mercado plant-based expandir ainda mais, sendo uma opção saudável para todos e para o meio ambiente.


Fonte: StartUps








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