Quem trabalhou na indústria cosmética conhece, com certeza, a Beraca Ingredientes Naturais S.A., fundada pelos irmãos Marco Antônio e Ulisses Sabará, em 1956. O ano passado, o Grupo Sabará vendeu a Beraca, tradicional fornecedora de óleos e manteigas para marcas como Natura, Boticário e L’Occitane, para a suíça Clariant.

Depois de tantos anos na Amazônia e no Cerrado desenvolvendo cadeias de fornecimento de bioinsumos para a indústria de cosméticos, Ulisses Sabará, sócio-diretor do grupo, quer aplicar esse conhecimento num segmento de crescimento explosivo: o de alimentos à base de planta. A ideia não é nova e há cinco anos ele já criou a Concepta Ingredients, um tipo de “Beraca de alimentos”! O ano passado, a Concepta faturou R$ 34 milhões e já tinha cerca de 500 clientes industriais ativos, que compram produtos como óleos gourmet ou uma manteiga vegana desenvolvida depois do teste com 300 fórmulas diferentes. A ideia agora é ampliar e sofisticar a linha de produtos.

Parte do dinheiro da venda da própria Beraca já foi direcionada para a Concepta, e o grupo agora negocia um crédito com investidores estrangeiros. “Existe um movimento, principalmente lá fora, de buscar construir cadeias de fornecimento sustentáveis de verdade. Tem gente querendo investir nisso e estamos buscando esse capital”, diz Sabará. O plano é aplicar R$ 50 milhões para erguer uma nova fábrica na região de Santa Bárbara do Oeste, SP, onde já existe uma planta, e investir em marketing e P&D. “Não precisamos de pesquisa para descobrir ingredientes, mas para aplicá-los.” comenta Ulisses Sabará.

Na visão do empresário, de forma geral, os produtos plant-based ou são pobres em sabor e textura ou, se conseguem ser ótimos nesses quesitos, não têm um trabalho consistente de sustentabilidade na cadeia de fornecimento. Neste campo, o grupo tem uma grande experiência, que se iniciou nos primeiros tempos da Beraca. “Hoje não tem ninguém fazendo isso e o mercado de alimentos está passo atrás do de cosméticos nessa questão”, diz ele.

No segmento plant-based, a empresa fornece para a Amazonika Mundi, que faz carnes com a fibra do caju. É da Concepta, por exemplo, o extrato de açaí que dá coloração de carne ao hambúrguer vegetal da marca. O kibe usa o óleo de patauá em substituição a azeites mais tradicionais, por conta das cadeias graxas semelhantes.

Esse é o caminho que a empresa quer seguir. No futuro, a ideia é conseguir, por exemplo, isolar proteínas e trabalhar com produtos ainda mais elaborados. Um campo no qual os estudos estão mais avançados na empresa é o de farinhas proteicas.

Ulisses Sabará se preocupa, e sempre se preocupou, com o aspecto social da exploração da Amazônia. Costuma dizer que a biodiversidade brasileira é uma fonte inesgotável de ingredientes para serem explorados – desde que do jeito certo. Não se trata de explorar, mas, sim, ajudar as comunidades locais a se organizar em associações ou cooperativas e garantir uma renda contínua. Hoje a empresa tem em sua cadeia de fornecimento quase 7 mil trabalhadores rurais, incluindo comunidades quilombolas e indígenas. E muitas outras comunidades já estão mapeadas, diz Sabará.

É preciso gerar valor para as comunidades. Para isto é necessário realizar nas próprias comunidades etapas de beneficiamento das matérias-primas que precisariam ser feitas na fábrica. “As mulheres catadoras de semente na praia da Ilha do Marajó, por exemplo, hoje têm uma sede e produzem óleo para a gente”, exemplifica. Essa forma de trabalhar tem valor estratégico também para a Concepta, ao gerar uma fidelização dos fornecedores.