Existe uma certa confusão no mercado na utilização de termos relativos a dietas alimentares e palavras usadas para produtos nas mesmas. Com o crescente número de pessoas reduzindo ou cortando completamente produtos de origem animal, acrescentando, consequentemente, mais vegetais às suas dietas, esses termos nunca foram tão utilizados. De fato, eles evoluíram rapidamente e, muitas vezes, significam coisas diferentes para pessoas diferentes. Por isso, é normal que muitas pessoas os confundam e não saibam com total certeza qual é a diferença entre eles.
Vegetariano, semi-vegetariano, vegetariano estrito, vegano, flexitariano, plant- based, é tudo a mesma coisa? Não, claro... embora, às vezes, as diferenças sejam mínimas. Em muitos casos existem sérias diferenças, tanto no que diz respeito a dieta e ao estilo de vida, quanto a oferta de produtos no mercado. Em todos os casos, nenhum desses termos preconiza o carnivorismo!
Voltando as origens... o vegetarianismo
Ainda não existe uma definição exata de dieta baseada em vegetais, embora muitos associem essa forma de alimentação a ser vegetariano, o que não é 100% o caso. O termo vegetariano é, de fato, muito amplo e cobre muitos modelos dietéticos, alguns dos quais também incluem alimentos de origem animal.
Embora algumas fontes sugiram que a palavra deriva do latim vegetus, não existem quaisquer provas que suportem essa teoria. A confusão parece resultar de uma passagem de um livro escrito em 1906, em que o autor analisa a palavra de um ponto de vista etimológico... para concluir que a mesma não deriva diretamente do latim. Na verdade, o termo já estava em uso desde 1840. O Oxford English Dictionary (OED), publicado desde 1884, pela Oxford University Press, considerado um dos mais conceituados dicionários da língua inglesa, refere que a palavra foi formada a partir de vegetable (vegetal) e do sufixo -arian. A palavra teria entrado no vocabulário geral devido a criação da The Vegetarian Society, em 30 de setembro de 1847, por Joseph Brotherton (1783-1857), em Northwood Villa, Ramsgate, Kent, Inglaterra, posteriormente transferindo sua sede para Manchester, em 1849, mesmo ano da primeira publicação do seu periódico "The Vegetarian Messenger". A versão mais curta "vegetarismo" é derivada do termo francês végétarisme.
A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), fundada em 2003, define o vegetarianismo como o regime alimentar que exclui os produtos de origem animal. Todos? Alguns especificamente?
Aqui começa o festival dos oxímoros. A exclusão dos produtos de origem animal pode ser de parcial até total! A SVB reconhece cinco grandes tipos de dietas vegetarianas, classificadas de acordo com os tipos de alimentos que são consumidos:
QUADRO DE ALIMENTOS CONSUMIDOS
NAS PRINCIPAIS DIETAS VEGETARIANAS
Ovolactovegetarianismo é uma dieta composta por alimentos de origem vegetal, ovos, leite e seus derivados. Nesta dieta há apenas a exclusão de qualquer tipo de carne da alimentação.
Lactovegetarianismo é uma dieta composta por alimentos de origem vegetal, leite e seus derivados. Os que a seguem não comem ovos, nem qualquer tipo de carne.
Ovovegetarianismo é uma dieta composta apenas por alimentos de origem vegetal e ovos, havendo a exclusão dos produtos lácteos e seus derivados, e de carne.
Vegetarianismo semiestrito é uma dieta que exclui quase todos os alimentos de origem animal, menos o mel.
Vegetarianismo estrito, também chamado de vegetarianismo verdadeiro, exclui todos os produtos de origem animal. Vegetarianos estritos não comem qualquer tipo de carne, ovos, laticínios, mel, etc. Essa forma de dieta é frequentemente confundida com o veganismo, mas, embora veganos sejam vegetarianos estritos, não são a mesma coisa!
Enquanto o vegetarianismo estrito é apenas um regime alimentar, o veganismo é respeito aos direitos animais - o que inclui o vegetarianismo estrito por razões éticas, mas não apenas (circo com animais, rodeios, produtos testados em animais e qualquer outra forma de exploração animal é boicotada pelos veganos). Existem também outras dietas semelhantes, como o crudivorismo e o frugivorismo.
E o pescetarianismo? Ainda chamado de piscitarianismo, o termo é um neologismo provavelmente derivado do termo pesce (peixe, em italiano) e a palavra vegetariano.
Pesce, por sua vez, deriva do latim piscis, que tem a forma pisci - quando serve como prefixo, como em piscicultura e piscívoro. Note que um piscívoro, um tipo de carnívoro, come uma dieta primariamente de peixes, enquanto o neologismo pescetariano refere-se a pessoas que consomem plantas e derivados além de peixes.
O dicionário Merriam-Webster data a origem do termo em 1993 e define como sendo: uma dieta que inclui peixes, mas, mais nenhuma outra carne. Os pescetarianos, ao lado de veganos e vegetarianos, foram descritos, em 1884, como pessoas que praticavam princípios dietéticos semelhantes aos da The Vegetarian Society (UK). Francis William Newman (1805-1897), que foi presidente da Sociedade Vegetariana de 1873 a 1883, tornou possível a filiação/associação para pessoas que não eram completamente vegetarianas, como os pescetarianos.
Não é possível ir adiante nesse assunto sem abordar o semi-vegetarianismo ou... flexitarianismo! Uma grande palavra que abre inúmeras portas, já que no sentido figurado da palavra, a flexibilidade de um indivíduo é a qualidade de compreender, aceitar ou assumir as opiniões, ideias ou pensamentos de outras pessoas. Normalmente, as pessoas flexíveis são consideradas dóceis e diplomáticas. Assim, os flexitarianos seguem uma dieta baseada em alimentos de origem vegetal, com a adição ocasional de carne; seguem um padrão de dieta bem menos estrito comparativamente aos padrões normais do vegetarianismo. Flexitarismo é um termo neotérico que ganhou um considerável aumento no uso, tanto na ciência quanto no grande público, na década de 2010. A palavra flexitarian foi listada no dicionário Merriam-Webster's Collegiate em 2012.
Todos os semi-vegetarianos ou flexitarianos podem ser descritos, sem risco de erro, como pessoas que comem uma dieta baseada em vegetais, mas não há um consenso firme de quão raramente alguém teria que comer carne e peixe para que sua dieta fosse considerada uma dieta semi-vegetariana, em vez de uma dieta normal baseada somente em vegetais. Em 2018, o americano médio consumiu cerca de 101 kg de carne, então, comparativamente, um semi-vegetariano teria que comer muito menos, mas... quanto? Condições recorrentes de um semi-vegetariano incluem consumir carne vermelha ou aves apenas uma vez por semana. Um estudo definiu os semi-vegetarianos como consumindo carne ou peixe três dias por semana. Ocasionalmente, os pesquisadores definem semi-vegetarianismo como evitar carne vermelha e o flexitarismo como comer muito pouca carne. O semi-vegetarianismo/flexitarismo pode ser a dieta padrão para grande parte do mundo, onde as refeições à base de materiais vegetais fornecem a maior parte da ingestão regular de energia das pessoas. Em muitos países, isso geralmente se deve a barreiras financeiras, já que rendas mais altas estão associadas a dietas ricas em proteínas animais e laticínios, em vez de alimentos básicos à base de carboidratos. Uma estimativa é que 14% da população global seja flexitariana.
O termo flexitariano foi criticado por alguns vegetarianos e veganos como sendo um oxímoro, porque as pessoas que seguem a dieta não são vegetarianas, mas onívoras, pois ainda consomem carne de animais!
Outros neologismos usados como sinônimos para semi-vegetarianismo são demi-vegetarianismo (semi-, demi- e hemi- são sinônimos!) e reducetarismo.
Reducetarismo? Sabendo que reduzir significa ficar menor, diminuir, limitar, é fácil deduzir o significado desse tipo de dieta. A Reducetarian Foundation, organização sem fins lucrativos, fundada em 2014, por Brian Kateman, em Los Angeles, CA, promove uma dieta "reducetária", onde os participantes reduzem a quantidade de carne (bem como ovos e laticínios) que consomem para melhorar sua saúde, proteger o meio ambiente e poupar os animais de criação da crueldade. Brian Kateman é cofundador e presidente da organização e um dos principais defensores dessa dieta alimentar. Ele é cético quanto ao uso de mensagens do tipo "tudo ou nada", como veganismo e vegetarianismo, acreditando que muitas pessoas ficarão mais entusiasmadas em reduzir apenas parcialmente o consumo de produtos de origem animal. Números? Quantidades? Frequências? Nada de concreto, somente defendem uma redução da ingestão de carne. Literalmente, é falar para não dizer nada!
BOX: Confusão de termos
"Vegetarianismo" é uma palavra ambígua, ou seja, que tem mais de um sentido. No sentido de gênero, fala abrangendo todas as formas de vegetarianismo. No sentido de espécie, designa o verdadeiro sentido da palavra, o vegetarianismo estrito (que não consome nenhum produto de origem animal).
Nisso, fazem-se diversas confusões. As mais comuns são: simplificar o ovolactovegetarianismo por vegetarianismo; e confundir vegetarianismo estrito com veganismo. Devido a isso, se emprega o termo "dieta vegana" para indicar a dieta vegetariana estrita. Veganismo não é dieta alimentar, vegetarianismo sim. O correto é sempre "dieta vegetariana". Ao referir-se a alguém que não se alimenta com nenhum produto de origem animal, usa-se o termo "dieta vegetariana estrita".
O veganismo em si não é uma dieta, mas um estilo de vida, com foco na ética animal. A palavra deriva do inglês vegan, termo criado em 1944, pelos ingleses Dorothy Morgan e Donald Watson (1910-2005), quando cofundaram a The Vegan Society, em Birmingham, no Reino Unido. No início, usaram essa palavra para significar non-dairy vegetarian (vegetariano não lácteo). No entanto, em maio de 1945, os veganos se abstiveram explicitamente de ovos, mel, leite, manteiga e queijo de animais.
O veganismo é a prática de se abster do uso de produtos de origem animal, procurando excluir, na medida do possível e praticável, o uso de qualquer produto de origem animal, seja na alimentação ou no vestuário. Um seguidor desta prática é conhecido como vegano. Os veganos, tal como os vegetarianos, não consomem quaisquer alimentos que envolvam a morte de um animal, como por exemplo carne, peixe, moluscos ou insetos, sendo que adicionalmente e contrariamente aos vegetarianos, os veganos também não consomem quaisquer alimentos de origem animal, tais como laticínios, ovos ou mel. Ademais, não adquirem produtos ou materiais derivados de animais, tais como couro ou lã, produtos testados em animais, nem frequentam lugares que usem animais para entretenimento, tais como espetáculos circenses que fazem uso de animais, rodeios ou jardins zoológicos.
Embora a dieta vegana e o princípio da não exploração dos animais tenham sido definidos na fundação da Sociedade Vegana em 1944, Leslie J. Cross, em 1949, considerava que a sociedade carecia de uma definição mais ligada aos "direitos dos animais", exigindo de seus membros a estrita obediência a esses termos, nomeadamente “o princípio da emancipação dos animais da exploração pelo homem”. Isso foi posteriormente definido como “a busca pelo fim do uso de animais pelo homem para alimentação, mercadorias, trabalho, caça, vivissecção e quaisquer outros usos envolvendo a exploração da vida animal pelo homem”.
A partir de 1951, a Vegan Society definiu como "a doutrina de que o homem deve viver sem explorar animais". O interesse pelo veganismo aumentou na década de 2010, especialmente na última metade. Mais lojas veganas foram abertas e opções veganas se tornaram cada vez mais disponíveis em supermercados e restaurantes.
De acordo com Joanne Stepaniak (1954), escritora americana especializada em veganismo e nutrição, a palavra vegan foi publicada pela primeira vez de forma independente em 1962, pelo Oxford Illustrated Dictionary, com a definição: um vegetariano que não come manteiga, ovos, queijo ou leite.
A ideia de viver de uma alimentação baseada estritamente em alimentos vegetais, no Ocidente, existe há muito tempo. No século XIX, já havia inúmeros debates entre vegetarianos que consumiam produtos lácteos e/ou ovos e vegetarianos estritos. Em 1809, o Dr. William Lambe, um pioneiro do vegetarianismo estrito, escreveu livros sobre os possíveis benefícios desta dieta no tratamento do câncer hepático e do estômago e, em 1854, para outras doenças, algumas crônicas. Assim, só a palavra “Vegan” era uma novidade em 1944.
A discussão sobre o uso de produtos lácteos e ovos na dieta vegetariana era recorrente, desde 1909. Em 1931, Ghandi discursou para a The Vegetarian Society de Londres a palestra “The Moral Basis of Vegetarianism”. Em 1938, a palestra "Saúde Sem Produtos Lácteos”, foi ministrada pelos médicos Dr. Cyril V. Pink e Dr. William White, que repetidamente em suas palestras e escritos testemunhavam sobre a condição superior de bebês criados sem leite de vaca.
O veganismo define um modo de vida que busca excluir todas as formas de exploração e crueldade animal, seja na produção de alimentos, roupas (couro, seda, etc.), cosméticos (queratina, batom vermelho carmim, etc.), higiene pessoal, limpeza, serviços e atividades em geral. Assim, não se trata só de dieta! Exclui o uso de animais ou derivados em toda a cadeia de produção. Seja para matéria-prima, testes em laboratórios ou exploração em serviços, se houver uso de animais ou derivados não cabe o uso do termo vegano. Por isso, muitas pessoas supostamente veganas... não o são 100% na prática!
BOX: Veganismo e cosmética
Você sabe a origem dos produtos usados em cosméticos?
Quando você é vegano, eliminar carne ou peixe é muito fácil. Mas caçar substâncias de origem animal em produtos de beleza ou higiene é um pouco mais complicado... Aqui está uma lista não exaustiva de produtos de origem animal para rastrear nos rótulos...
Glicerina: é uma gordura animal frequentemente encontrada em cremes e maquiagens por suas propriedades hidratantes;
Colágeno: é uma proteína que constitui, entre outras coisas, ossos e pele. O colágeno encontrado nos cosméticos vem de carcaças de animais, como carne de porco ou pele de peixe. É usado pelo seu efeito plumping.
A queratina: esta é novamente uma proteína encontrada no cabelo e na pele dos animais. É colhido principalmente na lã de ovelha ou nas penas das aves. A queratina é usada no cuidado do cabelo para fortalecê-lo.
Por fim, diga adeus ao lindo batom vermelho carmim, se quiser eliminar os produtos de origem animal. Esse pigmento vermelho é obtido esmagando cochonilhas. Não é muito glamoroso… É encontrado em muitos batons ou blush e também em alimentos. É o corante E120, feito a partir da cochonilha (Dactylopius coccus); são preciso 70.000 insetos para produzir 500g de corante!!!
Para ter certeza de estar usando um cosmético vegano, procure usar um produto com label internacionalmente reconhecido, garantindo que não haja origem animal ou substâncias testadas em animais nos produtos que você compra. Os organismos mais conhecidos que atribuem esse tipo de label são o PeTA (People for the Ethical Treatment of Animals), uma organização não governamental de ambiente (ONGA), fundada em 1980, que já conta com mais de dois milhões de membros e se dedica aos direitos animais. Possui dois label, um Cruelty Free e outro Cruelty Free & Vegan. A diferença? Ambos garantem a não utilização de animais em testes e desenvolvimento, mas só o segundo garante a não utilização de matéria-prima de origem animal no produto. Um segundo label confiável é o da The Vegan Society: The Vegan Trademark. Esse label Vegan tem ajudado os usuários a identificar que um produto não contém ingredientes de origem animal desde 1990. O registro com a marca comercial dá aos fabricantes/marcas a confiança para anunciar suas credenciais veganas. O label Vegan existe em mais de 50.000 produtos em todo o mundo, incluindo cosméticos, roupas, alimentos, bebidas, utensílios domésticos e muito mais! Um terceiro label, bastante reconhecido é o da francesa One Voice, uma associação jurídica local criada por Muriel Arnal em 1995. Atua na França e no mundo pelo respeito a vida em todas as suas formas e denuncia tanto a exploração animal quanto suas consequências de forma ética, ambiental e saudável. Desenvolve campanhas de lobbying e sensibilização com base, nomeadamente, no trabalho das investigações dos seus especialistas e nos relatórios dos peritos. Trabalha com ONGs internacionais, santuários e abrigos em todo o mundo onde suas ações são úteis. Seus dois labels garantem a ausência de testes em animais de produtos acabados, a ausência de testes em animais dos ingredientes, a presença de ingredientes naturais orgânicos (logotipo laranja) e a ausência de material de origem animal, exceto mel, pólen e cera de abelha.
Plant-based se refere tanto a uma dieta quanto a um produto. Enquanto a dieta não é exclusivamente baseada em vegetais, os produtos plant-based são! O termo se origina da comunidade científica e foi apresentado em 1980, pelo Dr. T. Colin Campbell (1934), bioquímico americano especializado no efeito da nutrição na saúde a longo prazo, que o utilizou para definir uma dieta com baixo teor de gordura e alta quantidade de fibras vegetais. Campbell reivindica a responsabilidade por cunhar o termo plant-based diet para ajudá-lo a apresentar sua pesquisa sobre dieta no National Institutes of Health (NIH), em 1980. O National Institutes of Health é um conglomerado de centros de pesquisa que formam a agência governamental de pesquisa biomédica do United States Department of Health and Human Services, frequentemente abreviado como HHS, com sede em Bethesda, Maryland. É o maior centro de pesquisa biomédica do mundo, com cerca de vinte mil funcionários. Enfim, nessa oportunidade, Campbell definiu a plant-based diet como “uma dieta com baixo teor de gordura, rica em fibras e à base de vegetais com foco na saúde e não na ética”.
A autora vegana Ellen Jaffe Jones escreveu sobre as origens do termo em uma entrevista de 2011: "Eu dei aulas de culinária para uma organização nacional sem fins lucrativos, o Physicians Committee for Responsible Medicine, e durante esse tempo, a frase plant-based diet passou a ser usada como um eufemismo para comer vegano. Ele foi desenvolvido para tirar a ênfase da palavra vegano, porque alguns a associavam a uma posição muito extremista, as vezes baseada exclusivamente nos direitos dos animais versus uma lógica de saúde".
O termo plant-based diet se refere a dietas que incluem quantidades generosas de alimentos vegetais e quantidades limitadas de alimentos animais. The American Institute for Cancer Research e o World Cancer Research Fund recomenda a escolha de dietas predominantemente baseadas em vegetais, ricas em uma variedade de vegetais e frutas, legumes e alimentos básicos amiláceos minimamente processados, e limitar o consumo de carne vermelha, se é que ainda é consumida!
Originalmente, uma alimentação plant-based se concentra exclusivamente nos benefícios para a saúde de incluir mais alimentos vegetais e evitar - não significa excluir! - produtos de origem animal; aqui não são envolvidos os aspectos éticos e morais, que são a força motriz por trás das dietas veganas. Em resumo, os veganos excluem todo e qualquer insumo de origem animal, enquanto os adeptos de uma plant-based diet simplesmente aumentam o consumo de insumos de origem vegetal, sem por isto abolir totalmente os insumos de origem animal. Exclusão completa vs. substituição parcial!
Os humanos são onívoros, capazes de consumir diversos alimentos vegetais e animais. Evidências fósseis de padrões de desgaste nos dentes indicam a possibilidade de que os primeiros hominídeos, como os Australopithecus robustus e os Homo habilis, eram onívoros oportunistas, geralmente subsistindo com uma dieta baseada em vegetais, mas suplementando com carne quando possível i.e. quando a caça tinha sido boa!
Compreender essa diferença entre os termos é tão interessante para consumidores quanto para fornecedores e todos os envolvidos na oferta desses produtos. Isso porque os consumidores veem o consumo de produtos “plant-based” como uma escolha alimentar positiva, mas, muitas vezes, consideram um produto “vegano” algo mais restrito a quem tem um estilo de vida muito comprometido com os direitos dos animais que, por vezes, parece algo muito difícil.
Simultaneamente, a escolha do termo mais adequado para um produto pode influenciar diretamente o alcance do público-alvo, bem como a imagem que a marca terá.
Um aspecto que muitas vezes leva à confusão é que o termo “plant-based” agora é frequentemente usado para descrever produtos veganos. Essa é uma opção de nomenclatura escolhida pela indústria por ser mais abrangente e conquistar o público geral mais facilmente. Nesse contexto, se a intenção for focar na composição vegetal, o termo “plant-based” parece mais adequado. Se a ética estiver envolvida na equação, aí sim o termo “vegano” pode aparecer, mas só se não houver mesmo insumos ou exploração de animais em nenhuma etapa do processo. Destarte, um produto pode carregar os dois termos, uma vez que não são mutuamente excludentes.
Um ponto interessante a se notar é que embora originalmente plant-based se referisse a uma dieta composta de alimentos vegetais integrais e naturais, o termo cresceu em popularidade e nos últimos anos foi adotado pela indústria para se referir a produtos alimentícios feitos à base de vegetais. Hoje, o termo não se refere mais especificamente a alimentos vegetais integrais e naturais.
Além disso, devido a todo a estigma envolto no termo “vegano”, muitas empresas e pessoas preferem utilizar o termo “plant-based”, uma vez que este último causa maior identificação e soa mais positivo para a grande maioria. Desse modo, a dieta ou um produto à base de plantas nem sempre se refere a algo saudável. Tudo isso porque o termo foi adotado por aqueles que não consomem produtos de origem animal (ou os reduziram drasticamente) e não se identificam com o termo “vegano”, como também, para rotular produtos vegetais sem ingredientes de origem animal
Conclusões
Vários estudos sobre os benefícios das dietas à base de vegetais têm tentado definir essa forma de alimentação (seja com relativa ausência de carne na dieta, até a completa ausência de alimentos de origem animal), comparativamente a dietas de indivíduos que comem carne diariamente. Recentemente, constatou-se que os benefícios das dietas vegetais não se devem apenas a ausência de alimentos de origem animal, mas também ao aumento da quantidade de alimentos de origem vegetal. Vários estudos mostram que dietas à base de plantas com baixas quantidades de produtos de origem animal sempre fornecem benefícios nutricionais e de saúde.
Existem diferentes maneiras de comer mais alimentos de origem vegetal - a dieta vegetal não exclui automaticamente todos os produtos de origem animal -, mas em vez da dieta se concentrar em alimentos de origem animal, os alimentos de origem vegetal deveriam estar no centro da dieta. Esse conselho está de acordo com as recomendações do World Cancer Research Fund (WCRF), que sugerem que dois terços de uma refeição devem consistir de alimentos de origem vegetal e um terço de produtos de origem animal.
Esse tipo de alimentação lembra a cozinha chinesa, na qual o arroz e os legumes são fartos, com um pouquinho de carne, frango ou peixe para dar um gostinho. É similar ao uso da palavra “mistura” no Brasil, usada como simbologia da alimentação e que remonta aos tempos da escravidão. Os escravos nas senzalas tinham acesso a arroz, feijão e farinha, mas a proteína (carne, frango ou peixe), que sempre foi cara, era dada em pequenas quantidades para que fosse dividida entre todos. Como sobrava um pequeno pedaço para cada um, a carne não era encarada como um prato principal, mas como um complemento a ser misturado no arroz e feijão. O hábito acabou caracterizando nossa gastronomia (no prato típico brasileiro, há mais arroz e feijão do que carne) e é por isso que usamos a palavra “mistura” para designar o complemento. No decorrer do tempo, e particularmente nas famílias mais abastadas, a famosa “mistura” passou a ser a parte mais importante da refeição.
Uma coisa é certa, as grandes dietas mencionadas acima são todas baseadas em vegetais, com a inclusão ou não, em quantidades variáveis, de alguma proteína vegetal.
Assim, parece ser mais saudável voltarmos a comer que nem os Australopithecus robustus! Comer javalis inteiros como faziam Asterix e Obelix, nunca mais. Orgias de grandes costelas, coxas de perus, pernis e outros pedaços de carne gargantuescos ou pantagruélicos, como os senhores da Idade Medieval, nunca mais.
Plant-based é o futuro, sim!