Epidemiologistas italianos descobriram que os alimentos ultraprocessados - mesmo que sejam à base de plantas e ricos em nutrientes - estão correlacionados com a mortalidade, especialmente por doenças cardíacas.

Bom! Uma maçã é uma maçã. Cresce em uma árvore, acaba no seu carrinho de supermercado, você come. É comida.

Um nugget de frango é... bem, pode ser um monte de coisas diferentes e existem centenas de maneiras pelas quais os ingredientes crus vão de uma fazenda para o seu prato. Mas ainda assim, você come. É comida.

Ambos os alimentos são compostos de proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais. A Organização Mundial da Saúde usa esses fatos para criar o Nutri-Score(1) de um alimento e essa informação é frequentemente exibida na frente das embalagens de alimentos na Europa. Também é amplamente utilizado por cientistas que estudam o impacto dos alimentos na saúde humana. Um Nutri-Score ruim, dizem, significa que a comida é ruim para sua saúde.

Existe outra pontuação alimentar comum que muitos cientistas usam, chamada NOVA Food Classification System. Desenvolvido no Brasil, o sistema é baseado na extensão e finalidade do processamento dos alimentos. Quanto mais processado, maior a pontuação NOVA e pior é um alimento para sua saúde.

Houve muita discussão ao longo dos anos sobre como essas duas pontuações interagem - e o que isso significa para a saúde humana. Por exemplo, muitos análogos de carne à base de plantas têm uma pontuação NOVA alta (isso é ruim), porque passam por uma enorme quantidade de processamento, mas também tendem a ter uma pontuação Nutri-Score muito boa (isso é bom), porque são baixos em gordura não saudável e feita de plantas.

Então, qual norma seguir? Pesquisadores da Itália acabaram de publicar um estudo no British Medical Journal que nos aproxima de uma resposta científica real. Os pesquisadores acompanharam mais de 22 mil pessoas por 12 anos, monitorando seu estado de saúde e hábitos alimentares, levando em consideração tanto a composição nutricional da dieta quanto o grau de processamento dos alimentos.

"Nossos resultados confirmam que o consumo de alimentos pobres em nutrientes ou ultraprocessados aumenta, independentemente, o risco de mortalidade, principalmente por doenças cardiovasculares", disse Marialaura Bonaccio, epidemiologista e primeira autora do estudo. "No entanto, quando levamos em consideração, conjuntamente, a composição nutricional geral da dieta e seu grau de processamento, descobrimos que esse último aspecto era primordial para definir o risco de mortalidade".

Em português mais claro: os alimentos altamente processados estavam mais intimamente ligados à mortalidade do que os alimentos com baixa densidade de nutrientes. Isso parece bem claro. “Na verdade, mais de 80% dos alimentos classificados como não saudáveis pelo Nutri-Score também são ultraprocessados”, continuou Bonaccio. "Isso sugere que o aumento do risco de mortalidade não se deve direta ou exclusivamente à má qualidade nutricional de alguns produtos, mas ao fato de que esses alimentos são em sua maioria ultraprocessados".

Esse é, naturalmente, apenas um estudo. Terá de ser replicado. E outras equipes de pesquisa realizarão seu próprio mergulho profundo em um conjunto de dados semelhantes, mas diferentes, e verificarão se a conclusão dos italianos é verdadeira.

Portanto, o debate está longe de terminar. Mas isso ainda parece uma vitória bastante decisiva para as empresas à base de plantas que se concentram em produtos simples e limpos, feitos com um pequeno punhado de ingredientes integrais, como jaca ou micélio.

(1) O Nutri-Score, também conhecido como rótulo nutricional de 5 cores ou 5-CNL, é um rótulo nutricional de cinco cores e uma tentativa de simplificar o sistema de classificação nutricional demonstrando o valor nutricional geral dos produtos alimentícios. Os cinco níveis variam de A a E, e de verde a vermelho, estabelecido de acordo com o valor nutricional de um produto alimentício. O seu objetivo é promover a escolha de produtos mais saudáveis do ponto de vista nutricional por parte dos consumidores e, assim, participar no combate às doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes.